Preocupado que sou com o futuro do planeta, fiz esta semana algo que planeava fazer há muito tempo: verificar qual é o impacto ambiental do Acordo Ortográfico — que não abreviarei por AO, por respeito à nossa língua. Tinha uma suspeita, a de que o acordo traria um certo benefício. Ao eliminar as consoantes mudas, os textos ficariam mais curtos, com uma consequente poupança em papel e tinta.
Vejo um programa de televisão transmitido em “direto” e sinto um arrepio pela espinha acima! Não graças ao programa, os programas da televisão são sempre muito interessantes, mas graças ao “direto”; pois é, o vírus do Acordo Ortográfico já contaminou as televisões lá de casa, e em breve irá contaminar-me também!
Consensos generalizados são sempre tramados de conseguir. O acordo Ortográfico não está a ser pacífico, e para além de muitas vozes se pronunciarem sobre o tema, também muitos sofrem com a questão! Outros, curiosamente, não! Muitos disléxicos e disortográficos que escreviam com erros passaram a acertar, com alguma sorte, em muitas palavras!
Aguardo com ansiedade o Agosto e o Verão, pois gosto de férias e do calor, mas o Acordo Ortográfico (AO) já despromoveu para verão e agosto! Como referia Miguel Esteves Cardoso “foto-reportagem passa a ser fotorreportagem (com um érre a mais, que não pertence nem a “fotor” nem a “rreportagem”) e mini-saia exige, pela perda do hífen, um ésse a mais: minissaia. Que artigo de vestuário é que é mini? É a “ssaia”, pois claro”.
O Acordo Ortográfico é como querermos unir, à força, os verões e os climas brasileiros, portugueses e cabo-verdianos, procurando semelhanças superficiais e despromovendo diferenças profundas.
Algumas alterações parecem fazer sentido mas a obrigatoriedade do acordo faz com que todos tenhamos de estar de acordo! Do que tenho lido ainda não me convenci da bondade do acordo que nos obrigaram e que tanta controvérsia tem suscitado. Eu ainda não escrevo sem o acordo. Sinto que perco cultura portuguesa para ganhar cultura internacional! Eu gosto de como aprendi, mas se não aprender outra vez parece que vou começar a dar erros nos ditados!
Renato Paiva