Renato Paiva

Artigo no Diário de Notícias

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A pedido da jornalista Joana Capucho uma colaboração neste artigo do Diário de Notícias de dia 11 de Março.

 

Sabia que existem vários tipos de inteligência? Jogos em família podem estimular as crianças a desenvolver as suas capacidades

“Desenvolva as inteligências do seu filho.” É este o desafio lançado por Renato Paiva no seu mais recente livro, em que apresenta 250 jogos e exercícios para estimular a criatividade e a curiosidade dos mais novos. Com base na teoria de Howard Gardner, professor da Universidade de Harvard, Renato Paiva defende que “cada criança é um ser único com um perfil de combinação das diferentes inteligências”, que evolui através das experiências e da estimulação. “Apesar de podermos ter de base uma predisposição genética para um determinado tipo de inteligência, a estimulação, as experiências e as valorizações sociais são condicionantes para que estas se desenvolvam ou fiquem latentes”, defende o diretor da Clínica da Educação.

A teoria admite a existência da inteligência linguística, lógico-matemática, visuoespacial, corporal cinestésica, musical, intrapessoal, interpessoal e naturalista. E ninguém melhor do que os pais saberá identificar quais as que mais se destacam nos filhos: “O que fazem eles quando ninguém lhes pede que façam alguma coisa? A que gostam de brincar? Como se divertem? Como preferem ocupar o tempo? O que adoram fazer? De que falam?”

Não existem, no entanto, receitas. “Se quisermos ter um desempenho de excelência numa determinada área, a estimulação das mais desenvolvidas cria um desempenho ótimo, como Mozart, como Ronaldo, que treina todos os dias. Mas também podemos optar por ter um perfil mais homogéneo estimulando as inteligências menos evoluídas”, sugere o consultor pedagógico.

Renato Paiva defende que os pais devem sempre “puxar pelas áreas mais fracas através das mais fortes. Por isso é importante que as atividades sejam diversificadas para que as diferentes inteligências interajam, se entreajudem e se desenvolvam”. Para potenciar essas inteligências, o coach pedagógico de alto rendimento escolar diz que não são necessários materiais específicos ou estruturados. A ideia é “incentivar as famílias a entreterem-se juntos, a jogar, a rir e a divertir-se em família”.

Inteligência linguística

Brincar com as palavras e com os sons através de trava-línguas, ouvir histórias e uma “boa conversa” são formas de desenvolver a inteligência linguística dos mais novos. Assim como o jogo do silêncio. “A regra é não usar palavras (orais ou escritas), apenas sons, gestos e expressões. Vale entrar em brincadeiras tontas e dar umas boas gargalhadas à conta da dificuldade que sentimos em compreender as mensagens uns dos outros”, propõe.

Com vista à estimulação da inteligência visuoespacial, Renato Paiva sugere, por exemplo, o jogo “que desenho fiz?”, que consiste em “desenhar com o dedo nas costas da criança para que esta adivinhe o que desenhou”, ou “desenhar sem tirar o lápis do papel”. Vendar a criança e dar-lhe pistas para que encontre um objeto é outra opção.

Corporal e cinestésica e musical

Misturar passos e movimentos de danças diferentes, simular um robô para realizar tarefas simples ou comer uma bolacha sem usar as mãos são alguns dos desafios propostos pelo autor para divertir toda a família e desenvolver a inteligência corporal e cinestésica. Já a musical pode ser estimulada com concertos familiares ao serão – ” solos ou bandas completas” – e com o jogo “qual é a letra”, para que a criança identifique a letra de uma música. E quem é capaz de identificar mais sons? “Ao passear na rua, ou numa visita à varanda, atente aos sons que o rodeiam. Identifique os sons das folhas pela passagem do vento, do carro que buzina, dos passos das pessoas, da música que o vizinho ouve aos berros.”

Intrapessoal e interpessoal

A inteligência intrapessoal pode ser desenvolvida com o “registo dos momentos difíceis”. “Para as crianças ou jovens que têm dificuldade em estar sossegados, concentrados, que fazem disparates dentro da sala perturbando o seu trabalho e o de outros colegas, peça para fazerem um registo dos momentos em que isto acontece, num dos seus horários semanais. Esta autoconsciência ajudará a compreender as razões e a implementar as estratégias de melhoria”, aconselha Renato Paiva.

Também pode ser benéfico falar sobre o nascimento da criança e a importância que teve para a família. Para promover a inteligência interpessoal, o diretor da academia de alto rendimento escolar Wowstudy sugere que os mais novos sejam envolvidos em “momentos de entrega específicos de bens e alimentos para quem mais precisa”, e que os pais recebam amigos em casa. “Partilhar o nosso mundo e receber pessoas para fazerem parte dele é criar memórias fortes de momentos significativos para mais tarde lembrar com carinho.”

Inteligência naturalista

Uma tenda, um colchão de enrolar, uma almofada e um saco-cama são os ingredientes necessários para uma experiência inesquecível. “Acampar pode significar uma aprendizagem de vida, que se torne também um estilo de vida”, sublinha Renato Paiva. “De cheiro em cheiro” é outra proposta para estimular a inteligência naturalista. Uma atividade que pode ser feita com saquinhos de cheiro, frascos de especiarias, na zona hortofrutícola do supermercado ou na rua. “Será que o manjericão cheira igual ao manjerico? E a canela em pó tem mesma intensidade de cheiro do que a canela em pau? As rosas brancas têm o mesmo aroma do que as vermelhas?”

Apurar qualidades

Sobre o livro, o psicólogo e psicanalista Eduardo Sá escreve no prefácio que é “um instrumento para transformar as qualidades das crianças em recursos, colocando pais e professores a crescer sempre que contribuem para que as crianças desenvolvam as suas qualidades e as apurem”.

Renato Paiva dá como exemplo o compositor austríaco Mozart. “Mozart, que por certo também tinha uma grande apetência para a música, melhorou a sua inteligência musical devido à dedicação que os pais lhe impunham.” Consideramos, prossegue, que “foi uma criança-prodígio: começou a tocar piano aos 3 anos, aos 5 já compunha, aos 6 apresentava-se de olhos vendados ao rei da Baviera e aos 12 anos terminou a sua primeira ópera”. Mas, destaca o autor, “não foi simplesmente agraciado com um dom especial”. O pai, adianta, “era professor de música e dedicou-se a ensinar o filho desde cedo. Mozart passou praticamente a infância à frente de um piano”.

 

Pode consultar no site do Dn aqui

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