Renato Paiva

Escola: o terceiro período começa hoje. Como ajudar o seu filho a estudar neste mês e meio final – DN

Escola: o terceiro período começa hoje. Como ajudar o seu filho a estudar neste mês e meio final – DN

Transcrição do artigo da jornalista Catarina Pires no Diário de Notícias

Um mês e meio passa num instante, com testes e exames uns a seguir aos outros, mas para muitos é decisivo e pode significar a diferença entre passar e chumbar. Os especialistas Jorge Rio Cardoso e Renato Paiva dão conselhos a pais e a filhos sobre o que fazer para ter sucesso escolar.

Texto de Catarina Pires | Fotografia de iStock

«Mãe, quem é que estavas a entrevistar?». «Um senhor que ensina a estudar e a ter melhores resultados». «Então, depois diz-me como é que se faz». A Rita vai ser uma das leitoras deste artigo. Não teve negativas, mas as notas não foram brilhantes. Quer melhorá-las e hoje começa o terceiro período, a última oportunidade que tem para fazê-lo, pelo menos este ano.

Os especialistas, e o mais elementar bom senso, dizem que não é em mês e meio que se consegue o que não se conseguiu desde setembro, mas alguma coisa se pode fazer para que nem tudo esteja perdido ou para que a pauta termine um pouco mais composta.

É também uma boa oportunidade para começar a pôr em prática métodos de estudo (e de trabalho) que tornam a escola (e depois a vida) mais fácil, bem-sucedida e divertida.

«Mais do que a nota, é preciso melhorar a atitude. Primeiro, ter uma postura atenta, participativa, trabalhadora. Depois, fazer que essa postura se enraíze para que não seja apenas um terceiro período milagroso, mas fique para um próximo ano mais tranquilo», diz Renato Paiva.

Muitos miúdos têm um mês e meio para mostrarem o que valem. O que podem fazer para melhorar notas e tornar positivas as negativas?

Renato Paiva, diretor da Clínica da Educação e da Academia de Alto Rendimento Escolar Wowstudy e autor de livros como SOS Tenho de Passar de Ano, Ensina o Teu Filho a Estudar ou O Segredo para Alcançar o Sucesso na Escola, diz que «mais do que a nota, é preciso melhorar a atitude. Primeiro, ter uma postura atenta, participativa, trabalhadora. Depois, fazer que essa postura se enraíze para que não seja apenas um terceiro período milagroso, mas fique para um próximo ano mais tranquilo.»

Segundo o especialista, «estudar com regularidade e evitar maratonas de estudo ajudam à eficiência, e, se for necessário, mais vale dar algumas disciplinas como “perdidas” para salvar outras. Mas o essencial é ter uma atitude positiva e otimista, que corresponde a um estudo efetivo. Articular trabalho com a ajuda e orientação dos professores também é benéfico. Questionar os professores sobre o que podem fazer ajuda a orientar o caminho e a criar compromisso não apenas consigo próprio mas com alguém externo que auxilie no percurso.»

«A técnica mais robusta de estudo é a programação do mesmo. Os alunos para terem sucesso escolar precisam de três coisas: motivação, uma boa organização e um método de estudo eficaz», diz Jorge Rio Cardoso.

Jorge Rio Cardoso, professor universitário e autor de livros como Ser Bom Aluno, ‘Bora Lá? e Pais à Beira de Um Ataque de Nervos concorda com a importância de falar com os professores no sentido de pedir ajuda e recuperar não só as notas como as credibilidade junto dos mesmos, mas considera que «a técnica mais robusta de estudo é a programação do mesmo. Os alunos para terem sucesso escolar precisam de três coisas: motivação, uma boa organização e um método de estudo eficaz.»

Para estarem motivados, defende o especialista, devem ter outras atividades para além do estudo, como desporto, música, teatro ou dança, «porque só um jovem bem-disposto e motivado para a vida poderá também estar motivado para o estudo».

Para uma boa organização, «o aluno deverá ter uma agenda – um quadro na parede onde anotará as suas responsabilidades, objetivos, prazos, entre outros aspetos – essencial para a programação do estudo, que consiste em enumerar o que tem para fazer — passar apontamentos a limpo ou resolver exercícios — e quando vai fazê-lo.»

«O método de estudo deve-se adaptar ao tipo de aluno e ao ciclo de estudos em que se encontra. Não se estuda da mesma forma no ensino básico e no ensino secundário. Defendo um método que se divide em quatro partes: planeamento do estudo, organização dos apontamentos, compreensão/memorização e aprofundamento dos temas. As maiores dificuldades dos alunos prendem-se com a falta de concentração. A “técnica pomodoro” é uma das formas de a contrariar: um timer em que o aluno faz sessões de 25 minutos e um intervalo de 5 ou 10 minutos. Convirá que defina objetivos antes de iniciar cada sessão: resumir 10 páginas do livro ou fazer dois exercícios de Matemática, por exemplo».

E os pais, como podem ajudar?

Renato Paiva defende que os pais devem interferir o menos possível, não só agora mas sempre, «porque estudar é uma tarefa dos alunos e não dos pais». «Podem ajudar, no processo, na organização, na definição de objetivos e orientando estratégias exequíveis para os alcançar, mas sem interferir naquilo que é a responsabilidade dos filhos. Nem fazendo por eles, nem desculpabilizando-os.»

Na opinião de Rio Cardoso, aos pais cabe criar autonomia, motivar e proporcionar um ambiente emocionalmente positivo. «A origem do insucesso escolar poderá estar em múltiplos aspetos, mas, em geral, poderá advir de uma má preparação dada à criança pela família e, em particular, pelos pais», diz o autor de Pais à Beira de Um Ataque de Nervos.

«Muitos adolescentes são maus alunos porque se sentem perdidos, sem regras, procuram benefícios imediatos, têm dificuldade em adiar a recompensa e, na maior parte das vezes, tudo isto teve origem nos primeiros anos de vida.»

As experiências da primeira infância são para o pedagogo determinantes para os resultados escolares futuros e aspetos como a vivência de conflitos, a criação de regras, a definição de limites e até a relação com a tristeza e a frustração devem ser trabalhados desde cedo.

«A empatia é das competências mais importantes para o sucesso, escolar e não só», diz Jorge Rio Cardoso.

«Os níveis cognitivos dos jovens são quase sempre apontados como a determinante essencial para o seu sucesso escolar, mas tão importante como estes é a estabilidade emocional. Portanto, assegurar que o filho é emocionalmente apto é essencial para as classificações escolares (e para o seu sucesso na vida!)», diz Jorge Rio Cardoso, que defende que mais do que jovens com níveis cognitivos altos, interessa jovens equilibrados em termos emocionais.

«Os resultados escolares elevados de pouco servirão a um jovem que, perante situações complexas que lhe sejam colocadas no futuro, não as consegue ultrapassar, pois, emocionalmente, não está preparado para elas. Toda esta situação poderá, até, cercear-lhe a possibilidade de ser feliz.»

É, pois fundamental para o especialista que os pais ajudem os filhos a conhecerem e gerirem as suas emoções e saberem reconhecer e lidar eficazmente com os sentimentos dos outros. «A empatia é das competências mais importantes para o sucesso, escolar e não só».

Boas notas não têm preço

Uma das questões que mais dúvidas levanta, quando se aborda o papel dos pais na melhoria dos resultados escolares dos filhos é se estes devem ou não oferecer contrapartidas. Prometer dinheiro ou bens materiais em troca de boas notas é uma boa política parental de apoio ao estudo? Qual a melhor forma de motivar os miúdos?

Renato Paiva não tem dúvidas de que a principal contrapartida deve ser a própria satisfação de dever cumprido. «O orgulho que sentem neles próprios por conseguirem é que deve ser o foco principal e não o vídeo jogo ou consola ou smartphone. Se assim for, criam-se precedentes e o hábito de todo o esforço implicar uma compensação externa torna-se depois uma constante difícil de ultrapassar», alerta o especialista, secundado por Jorge Rio Cardoso, que defende que a motivação extrínseca baseada em bens materiais é um modelo de compensação a que os pais devem fugir.

«Considero que a ajuda dos professores e um trabalho articulado com estes é sempre mais benéfico do que explicações. Estas só se justificam se as dificuldades forem muitas e a escola não consiga ter resposta adequada», diz Renato Paiva.

«Os jovens devem ter boas notas porque têm brio nisso, porque ficam contentes e sabem que os pais também ficarão felizes. Quanto muito porque sabem que isso valer-lhes-á maior autonomia, liberdade ou tempo livre, que são contrapartidas imateriais», diz.

E as explicações são uma boa solução nesta reta final? Para Renato Paiva, depende dos contextos e do tipo de dificuldades. «Considero que a ajuda dos professores e um trabalho articulado com estes é sempre mais benéfico. Só se justificam se as dificuldades forem muitas e a escola não consiga ter resposta adequada.»

Também Jorge Rio Cardoso é avesso a esse recurso, que só aconselha em S.O.S. e com o compromisso do aluno de que vai levar a sério, porque é importante eles perceberem que é um investimento financeiro que os pais fazem, mesmo que tenha possibilidades de o fazer. «É uma das lacunas do nosso sistema de ensino é não ensinar a estudar», diz o autor de Ser Bom Aluno, ‘Bora Lá?

Saber estudar é não meio, mas todo o caminho andado para o sucesso escolar. Renato Paiva não tem dúvidas sobre os conselhos para os miúdos estudarem com sucesso:

  • Diversificar o estudo;
  • Manter o foco;
  • Atitude positiva;
  • Trabalho coordenado com o professor;
  • Estudo antecipatório e não apenas nas vésperas;
  • Boa organização e sentido de compromisso;
  • Sentir responsabilidade que a escola é importante não para as notas, mas para o seu projeto de vida.

Para os pais, os conselhos passam por orientar os filhos ajudando-os a fazerem boas escolhas; planificar a estratégia e o caminho a seguir; supervisionar o trabalho para que este seja constante e adequado. Mas sobretudo «ter a perceção que os miúdos não são apenas estudantes e que não são apenas os resultados escolares que importam na vida deles. Estes são uma parte integrante de um todo que os define enquanto pessoas. E enquanto pessoas devem ter outras ocupações e hobbies para além do estudo académico», conclui Renato Paiva.

 

Artigo original pode ser acedido aqui

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